quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Season 4 - Episódio 7

Hoje a alvorada foi as 5 da matina.
Tinhamos de apanhar o comboio das 6:35h para Ottawa para participar numa iniciativa da Universidade de Ottawa denominada "Frontiers in Research Lectures". Basicamente consiste em que eles organizam um dia por ano onde convidam cientistas de renome que vão dar cada um uma lição plenária sobre o tema escolhido. Este ano era sobre o Árctico e tinha como titulo "The Disappearing North". O dia começa com apresentações de alunos de mestrado ou doutoramento da universidade que estão a realizar trabalho sobre o tema em questão.
Como o nosso colega Martin ia então apresentar o seu trabalho, lá foi toda a gente. E se valeu a pena. Entre debater a questão politica de a quem pertence e quem deve gerir o árctico a aspectos cientificos, houve de tudo.
A cereja no topo do bolo foi mesmo a conferência da Sra. Sheila Watt-Cloutier. Basicamente esta senhora é Inuit (esquimó) nasceu e viveu no árctico canadiano e tem vindo a constatar pessoalmente e através do contacto com outros inuits das alterações que o árctico tem vindo a sofrer. 
Tornou-se então activista pela defesa do árctico quer a nível do ecossistema em sí quer a nível do povo que nele habita. Foi emocionante ouvi-la. Muitas vezes temos a noção de como as coisas estão a mudar na perspectiva dos cientistas que visitam e não da que quem sempre lá viveu e vê as coisas mudarem radicalmente. Ouvi-la durante uma hora foi como senão tivessem passado mais de 5 minutos. Foi beber cada palavra que ela dizia. E foi também o único orador a ser aplaudido de pé. Nunca tinha ouvido falar dela e no entanto já foi nomeada para prémio Nobel da Paz. Ficaram-me duas frases dela:

"Ao longo dos últimos milénios, os povos do norte sempre se adaptaram as alterações a ele impostas. Agora elas estão a ocorrer a um ritmo que eles não conseguem sequer indentifica-las".

"Em 2007, a passagem a norte ficou pela primeira vez livre de gelo. Para os governantes este foi um sinal de como se pode tornar mais barato transportar mercadoria entre o Atlântico e o Pacifico. Para nós (os inuit) foi uma catástrofe sem precendentes".

Era bom o mundo tomar consciência do que realmente se passa. As vezes pensamos: o árctico é tão longe como me pode afectar, eu que vivo a milhares de km de distância. A verdade é que as coisas não são bem assim. Senão formos nós a ver essas alterações os nossos filhos vão senti-las.

Chegada a Ottawa
Universidade de Ottawa
Idem
Idem
Sra. Sheila Watt-Cloutier

4 comentários:

SCS disse...

O novo milénio devia ter chegado em pack de nova ética mas, não.

Vivi, nesta semana, uma daquelas situações de Sujeito A, B e C com a diferença da relação de amizade com B ou C.
É o focus de vida onde passo mais horas e o único amigo que me vejo criar é um Y de final de abecedário!

Tentar abordar a questão do ambiente numa escola é tarefa ridicularizada pela geração que se recusa a encarar a problemática de frente e a assumir a sua própria culpa.

É, para mim, inclassificável não se separar lixos ao nível da cantina, do bar, da reprografia, dos serviços administrativos, das salas de aula, casas de banho, corredores, áreas comuns, ginásio, sala dos professores, dos directores de turma, ora bolas, ao nível do próprio conselho executivo!

Mas é frequente pararem a olhar para uma chuvada urbana que inunda o Metro e afirmarem, com a determinação de um dedo de Michelangelo, que o mundo está tão perdido que já nem no tempo se pode confiar.

Está, de resto, provado que a culpa é do tempo - esse desbloqueador de conversa mas jamais de mentalidades!
E temos um país parado, a olhar, nesta irreversível apneia.

E depois temos investimentos em inovações e tecnologias que, numa incontornável teoria do caos, proporcionam que pessoas como tu conhecem outros Árcticos e o que fazemos com elas??
Nada.
Porque ainda não tens tempo de serviço para chefiar uma equipa, porque o teu dr é mais pequeno do que o Dr do teu chefe, porque este maldito legado católico nos ensinou a esticar dedos para sermos deuses.

Se calhar devia mandar isto para o mail. Costumo pagar caro os meus desabafos no teu Acento.
Mas olha, agora fica!

Mi gustas *
S.

Kapitão Kaus disse...

Muito bem!

Esses momentos de partilha são sempre óptimos e estimuladores!

Bom trabalho!:)

Enjoy:)

TrekMan disse...

João... não queres trazer essa Senhora cá para quem decide ouvir certas verdades?

Vira Vento... é mesmo assim! Infelizmente a sociedade anda a olhar para o lado errado! Vá-se lá entender por que razão é mais importante dar 20 mil milhões de euros à banca em vez de investir no futuro do País. Pela minha parte continuo a andar com os bolsos cheios de lixo! :-)

Anónimo disse...

É engraçado como passamos a vida de dar desculpas... e a colocar as culpas nos outros pela sua inércia... sobretudo que a culpa é da sociedade.
A mensagem principal desta senhora é que nós todos somos cidadãos do mundo, e como tal temos que ter responsabilidade individual, ter a consciência de que o que fazemos tem conseqências nos outros. Já não se trata de uma questão de alterações climáticas, porque essas, infelizmente já estão instaladas, só não vê quem não quer, mas sim de uma questão de direitos humanos. O povo esquimó tem direito a ter terra, casa e de manter o seu modo de vida como qualquer um de nós, assim como qualquer povo do mundo. Quem somos nós, sociedades ocidentais de ditar o que se deve ou não fazer?
Não interessa que o vizinho do lado não separe o lixo, interessa é saber o que nós, individualmente, estamos decididos a fazer por esta nossa casa, que é a TERRA. O que ela nos diz, é: a nossa acção individual faz diferença! Nas nossas casas, nas nossas pequenas comunidades, nós podemos marcar a diferença, e os outros? esses hão-de vir por arrasto, como é costume. Nós devemos todos ser capazes de ter uma ética e moral elevadas, só assim somos credíveis.
Eu há muito que decidi, ser eu a tomar a iniciativa, mesmo sendo a única na familia, no meu trabalho, por vezes ridicularizada, mas sei que eu conto, sou menos uma na histeria da sociedade e vocês?